A alteração do horário do Acre e de parte do Amazonas ainda é motivo de debate e divide opiniões. A mudança vai além de adiantar ou atrasar o relógio, interfere no cotidiano, nas escolas e no comércio. O projeto de lei que restabelece o fuso vigente até 2008 no Acre, de duas horas a menos de diferença em relação à Brasília, foi aprovado pelo Senado Federal no final da tarde desta terça-feira (8) e aguarda a sanção da presidente Dilma Rousseff (PT).
Gerente de uma loja de eletrodoméstico no centro de Rio Branco, Jean Damasceno acredita que para os comerciantes, o ideal seria permanecer como está, uma hora de diferença da capital brasileira. "A gente já se adaptou. Os funcionários já se acostumaram. Mudar no momento não seria viável. Primeiro que a gente abriria e fecharia o comércio uma hora mais tarde e não aproveitaríamos tão bem a luz do dia para vender", comenta.
Bem perto da loja gerenciada por Jean, o camelô Raimundo Oliveira discorda. Ele precisa chegar pelo menos uma hora antes do horário comercial em seu ponto de venda no centro da cidade para organizar a mercadoria. "Quando chego, ainda está escuro", diz. A lojinha de sandálias agora é aberta às 8h da manhã e fecha às 18h.
Para o comerciante existem pontos positivos e negativos no retorno do horário, mas, apesar de muita gente já ter se acostumado a levantar antes do nascer do sol, é preciso respeitar a vontade popular expressa no referendo realizado em 2010, em que 39,2% dos eleitores acreanos votaram pelo retorno do fuso horário antigo e 29,7% pela manutenção do vigente. "O povo votou. Não acatar é um desrespeito com a democracia", ressalta.
Fase de adaptação nas escolas
O horário foi alterado após a aprovação da lei nº 11.662, de 24 de abril de 2008, de autoria do então senador e atual governador do Acre, Tião Viana. A diretora da escola primária Menino Jesus, Adalvanir de Carvalho relembra como foi todo o processo de adaptação para a comunidade escolar. "Houve alguns transtornos. O horário de funcionamento, que era das 7h às 11h da manhã, passou a ser das 8h às 12h", conta.
Nesta época, Adalvanir era professora. "Alguns alunos meus da educação infantil diziam 'professora, agora a gente vem de noite para a escola'. Então tivemos que nos adequar às necessidades da comunidade escolar e dos próprios alunos. Até porque também os outros órgãos mudaram e os pais tinham que vir antes do trabalho para deixar as crianças", conta.
O retorno do horário antigo implica em novas adequações. "Vamos ter que nos reunir com a Secretaria de Educação e, muito provavelmente, vamos ter que mudar o horário da escola outra vez". Ainda assim, a diretora confessa que gostou da notícia. "Eu, particularmente, prefiro como era antigamente", afirma.
Na casa da estudante do terceiro ano do Centro Educacional de Jovens e Adultos (Ceja) Mara Gomes, todos também são a favor do retorno do horário. Ela relata que sentiu dificuldades para se adaptar na época da mudança. "Primeiro a dificuldade era sair de casa antes do nascer do sol. Depois que a aula passou a começar 8h, acho ruim estudar até 12h, quando geralmente deveríamos estar em casa almoçando", diz.
Mudando a rotina
O mototaxista Cristiano Mendes diz que o horário vigente não deve permanecer, porque foi uma imposição e não condiz com a realidade do Acre. "Você acorda as 5h da manhã e é madrugada total. Na parte física, faz muita diferença. Interfere no nosso trabalho. A minha adaptação foi péssima. Tinha que acordar uma hora mais cedo para atender as pessoas que também foram obrigadas a ir trabalhar mais cedo, ainda no escuro", comenta.
Colega de profissão de Cristiano, Edileudes Menezes pensa diferente, "Já me acostumei com esse horário e prefiro que continue. Mas se vai mudar, vou continuar saindo de casa na mesma hora e aproveitar para lucrar mais, com mais tempo na rua", brinca.
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