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16 de abr. de 2012

Sexo ainda é um TABU?

Sexo
Falar sobre sexo na sala de aula ainda é um assunto que divide opiniões entre pais e pedagogos. Profissionais de escolas públicas e privadas de Manaus, afirmam que a responsabilidade principal da educação sexual é da família, entretanto, a escola, que teria o papel de complementar, passou a ser difusora principal do assunto. Segundo os educadores, falar de  "sexo" ainda é tabu para alguns pais, que muitas vezes se sentem constrangidos ao tocar no assunto com os filhos.
Geralmente os adolescentes passam a se interessar pelo assunto quando estão no 9º ano do ensino fundamental, segundo Delta Segadilha, coordenadora do programa "Saúde Escolar" da Secretaria de Educação do Estado do Amazonas. Porém, ela lembrou que a importância da educação sexual na escola vai desde o primeiro ciclo, às séries mais avançadas.
Para ela, fazer orientações sexuais é  preparar as crianças de forma segura, para que elas possam se tornar futuros cidadãos livres de preconceitos e dúvidas quando o assunto em questão for "sexo".  Delta contou que as escolas públicas estaduais contam com diversas atividades da parte pedagógica, onde existem projetos e programas desenvolvidos em parceira com o Ministério de Educação, Saúde, e demais parceiros de universidades de Manaus. 

Tabu
Além dos programas, a coordenadora do programa "Saúde Escolar" ressaltou a importância de formar os professores para falarem com os alunos sobre a temática, porém, lembrou que existem educadores que ainda não sabem abordar o tema com os alunos. "Para isso nós temos um treinamento que acontece todos os anos envolvendo o assunto, pois é fato que existem professores que ainda persistem em certos tabus, então resolvemos treinar pessoas específicas para a área, no qual o foco é educação sexual e direitos reprodutivos", contou.
Quanto aos pais de alunos de escolas públicas que não desejam que o assunto "sexo" seja repassado ao seus filhos, a coordenadora explicou que nas reuniões de pais com a coordenação, o cronograma do que será abordado nas aulas sempre são passados aos responsáveis, e quem não quiser que o aluno participe das palestras, basta se manifestar contra.  Entretanto, Delta ressaltou que nem todas as famílias estão preparadas para falar sobre o assunto com os filhos, pois muitos pais não sabem de como educar sexualmente seus filhos. "Se a escola não fizer, quem é que vai fazer?", indagou.  
Quem também concorda que a escola tem um papel fundamental na educação sexual das crianças e adolescentes é a psicóloga educacional do Colégio Dom Bosco, Samadah Amazonas, que há 10 anos trabalha na área. "Existem falsos paradigmas que nós procuramos quebrar diariamente. Por tratar-se de uma instituição católica, levantamos a questão de que a educação deve se dar como um todo, não somente com os conteúdos", declarou.

Papel da escola e da família
Para ela, a segunda esfera de socialização da criança e do adolescente é a escola, que teoricamente funcionaria como um complemento na educação sexual, porém, a realidade é completamente diferente. "Existem algumas crenças de que a educação doméstica seria responsável, mas que não é. Existem mães que não falam com suas filhas nem sobre menstruação", comentou.
Samadah informou que o Colégio Dom Bosco realiza periodicamente palestras que são ministradas para alunos da educação infantil ao ensino médio, "claro que trabalhamos conforme a idade do aluno, com os mais novos nós vamos amadurecendo a ideia de higiene pessoal, que também entra na questão da educação sexual", disse ela, que também lembrou que todo o conteúdo que é ministrado nas palestras é informado aos responsáveis, "isso é para que eles não fiquem assustados quando os filhos chegarem em casa comentando que o nome das genitais não é "florzinha" ou "piu piu", e sim vagina e pênis".
Para a psicóloga, a sexualidade não está ligada apenas ao ato da prática de sexo, mas também a sensações, sentimentos e emoções. O que para os pais muitas vezes não é levado em conta quando se fala em orientação sexual. Além disso, as orientações não são apenas para evitar gravidez, mas também para alertar sobre as doenças sexualmente transmissíveis. 
A dona de casa Giselle Farias, 40, mãe de Giulia, de 14 anos, afirmou que gosta quando os profissionais da escola explanam sobre educação sexual. Ela conta que não se sente envergonhada ao falar do assunto com a filha, mas confessou que prefere que um educador profissional instrua a adolescente. "Eu converso bastante com minha filha, mas sei que existem assuntos que ela tem dúvidas e que não tem coragem de chegar até a mim e perguntar, por isso acho importante a ajuda da escola e de profissionais que sejam treinados para isso. Infelizmente, muitas famílias são muito tradicionais ou mal informadas e não tocam no assunto "sexo" com os adolescentes. Mas ainda acredito que é melhor prevenir do que remediar", declarou Giselle.

Palestras preventivas
'Prevenir' também é uma das preocupações da Secretaria Municipal de Educação (Semed), que informou por meio de sua assessoria que a 'educação sexual' começa a ser  trabalhada nas escolas a partir da educação infantil, por meio de palestras informativas abordando o tema 'higiene pessoal'. Já no ensino fundamental, (6º ao 9º ano), é desenvolvido um projeto com professores, pais e alunos com palestras preventivas, oficinas, encontro com os diretores e atividades com alunos e familiares.

A Coordenadora das Ações de Enfrentamento à Violência da Semed, Eliana Hayden, contou que essa metodologia de trabalho nas escolas Municipais começou em 2004 e gradativamente foi atingindo todas as escolas. Ela informou que o tema é trabalhado de uma forma interdisciplinar, com professores de ciências, português, história e ensino religioso de acordo com os fenômenos que acontecem na instituição.
Eliana, como as demais entrevistadas, também concorda que o assunto é de responsabilidade familiar, porém, muitas vezes não é discutido em casa. "Existe uma lacuna muito grande que não é preenchida pela família, então, a escola preenche. Hoje em dia se ouve falar muito mais em gravidez, doenças sexualmente transmissíveis e violência sexual nas escolas e na mídia, do que em casa", disse, ressaltando que há quatro anos, as famílias eram mais resistentes ao tema, mas que agora, estão mais flexíveis por conta da interação família/escola.

A enfermeira Áurea Santos, 42, mãe de um adolescente de 12 anos, e outro de 16, contou que conversa abertamente sobre sexo com seus filhos. Para ela, a escola é muito importante na formação de educação sexual, porém, o papel principal, segundo ela, ainda é da família. "Eu sei que muitos pais não conversam sobre isso, ou vêem como um assunto proibido, e é por isso que vemos meninas cada vez mais novas engravidando. Eu instruo meus filhos desde quando eles completaram 10 anos. Não quero ser vó cedo, ou que eles peguem algum tipo de doença, por isso sempre procuro manter um diálogo", disse.

Portal D24

Eder Maia-Social.

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